OS RAPAZES DA BANDA (The Boys in the Band, 1970), William Friedkin

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por Ronald Perrone

Baseando-se novamente em uma peça teatral, dessa vez de Mart Crowley, William Friedkin precisou enfrentar dois grandes desafios que o material lhe apresentava neste seu quarto longa: o de ser excessivamente teatral – já que toda a trama transcorre num pequeno apartamento – e a complexidade do tema em alguns aspectos, especialmente quando observado sob o ponto de vista atual.

No primeiro, conseguiu se sair muitíssimo bem. Friedkin já havia demonstrado sinais de talento no trabalho anterior, The Birthday Party (68), e em Os Rapazes da Banda apenas confirma a aptidão de bom diretor.

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É no segundo desafio que a coisa complica. Os Rapazes da Banda é protagonizado por um grupo de homossexuais, cujo estilo de vida é retratado de maneira madura, inteligente e bem humorado (sem ser irônico). Até aí tudo bem. No entanto, alguns desdobramentos do enredo colocou a própria comunidade gay a lançar críticas ofensivas ao filme. Na trama, sete amigos que “jogam no mesmo time” se reúnem para comemorar o aniversário de um deles, com direito a um inusitado presente ofertado ao aniversariante, um jovem atlético e parvo, fantasiado de Jon Voight em Perdidos na Noite (1969). O que era para ser um agradável momento de descontração, bebedeira e reencontros, acaba virando um pesadelo, cheio de revelações dolorosas, quando um elemento estranho surge em cena: um heterosexual, que termina sua participação com seu orgulho hétero às alturas, sem se “contaminar”, enquanto a “banda” toca os seus lamentos… Em tempos em que se discute as presepadas homofóbicas de certas figuras no poder no Brasil e no mundo, Os Rapazes da Banda soa um tanto piegas nesse ponto.

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No entanto, seria exagero colocar toda a apreciação de Os Rapazes da Banda em risco por causa disso, até porque o retrato do homossexual é aberto, acertado, honesto, até respeitoso. E Friedkin dizia que o tema não era sobre o universo homossexual, era sobre problemas da natureza humana. “Eu espero que haja homossexuais felizes. Eles apenas não estão no meu filme”. Demonstrando o abusado cineasta de língua afiada e o provocador pelo qual ganharia fama em filmes como Parceiros da Noite (80) e Viver e Morrer em Los Angeles (85).

Mas tem razão. Independente de sexualidade, existem pessoas boas e más, tristes e felizes, humildes e arrogantes, e os conflitos teriam o mesmo efeito se trabalhado com casais ou amigos heterossexuais nas mesmas circunstâncias. Conta muito também a maestria de Friedkin na condução deste teatro cinematográfico, com um senso de ritmo primoroso, mise en scène e direção de atores magníficas. E que atores! Sem exceção, todos estão impressionantes. Ajuda o fato de ser o mesmo elenco da peça que deu origem (a única exigência dos produtores). Pode-se não concordar com alguns detalhes, mas quando Friedkin acerta na direção é imbatível.

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