Por Caio de Freitas Paes
Um encontro da maior parte das gangues de Nova York; um líder carismático o suficiente para conseguir uma trégua entre rivais; uma promessa de revolução – a tomada da cidade. Quando tudo parece pronto para que a história seja reescrita, um tiro cala o messiânico Cyrus e a trégua é desfeita. Esse é o início da jornada no terceiro filme de Walter Hill: THE WARRIORS – OS SELVAGENS DA NOITE.
A trama privilegia um ritmo pegado e ágil justamente por sua crueza: em pouco menos de 15 minutos já se entende que toda a promessa de revolução punk serve como disparador para uma maratona contra a morte, um mergulho na face sombria da cidade. Tudo e todos são rivais, e aos Warriors caberá passar por todo tipo de provação para saírem vivos do sonho que se torna pesadelo.
É importante atentar que a própria introdução também já sintetiza a força do filme. Uma montagem dinâmica e intensa, o uso sagaz da trilha sonora para conduzir nosso olhar por entre a odisseia da gangue de Coney Island – com destaque para a locutora da rádio fictícia, que faz o papel de narradora informal da trama -, os diferentes perfis de cada um dos membros: esses elementos prenunciam o desenrolar da obra.
Tudo isso, claro, ganha ainda mais vigor por meio do olhar esteticamente aguçado da dupla Walter Hill-Andrew Lazlo (o diretor de fotografia), que oferecem uma variedade rica de planos e formas de caracterizar as fugas, diálogos e brigas durante o filme. A alternância entre close-ups, tomadas panorâmicas, planos abertos e cenas gravadas com grua valorizam o filme, borrando as fronteiras cinematográficas para inventar/capturar uma Nova York sombria e ameaçadora. Para tal, a concepção do sem número de gangues rivais foi feita com esmero: os visuais, fisionomias e adereços moldam outra camada de imersão no universo da obra.
Mas o ritmo envolvente de THE WARRIORS não deriva apenas da roupagem do filme: a própria narrativa é muito certeira ao colocar os guerreiros de Coney à prova incessantemente. Ao longo do filme a trupe vai sentindo o fardo de fugir de toda uma cidade à medida que membros são pegos, ou até mesmo vitimados. A luta pela sobrevivência ganha consistência e cativa – além de ser simbolizada na própria travessia e também nos diferentes obstáculos/inimigos que atravessam o seu caminho. E justamente por essa rica combinação com uma roupagem de filme noturno, misturando ação com densidade, que o filme é um grandes clássicos de Hill.
Não à toa é referenciado em diversas outras películas do gênero – além de ter ramificado até em um (excelente) jogo para videogame, desenvolvido pela Rockstar e lançado na década passada. THE WARRIORS consegue envolver tanto pela estética estilizada concebida, quanto pelo ritmo e pelo carisma dos personagens principais – e por sua trajetória ao longo do filme. Com quase quarenta anos contados desde seu lançamento, a obra exala juventude e inventividade ainda hoje.
Meu favorito do Hill principalmente pelo valor sentimental que tenho por ele.
Terminei de ler a pouco tem o livro do Sol Yurick (na versão pela Darkside com um prefácio excelente escrito por ele) que deu origem ao filme. Bem mais pesado, realista e depressivo que o filme… Vi muito fã do filme decepcionado nos comentários da Amazon BR depois de ler o livro. Mas não deixa de ser interessante porque mesmo assim tem várias similaridades.
Nesse vídeo tem uma analise sobre as diferenças:
SPOILER
…
Mas o final na praia é meio decepcionante. Todo mundo se arma só pro Luther tomar uma facada na mão e ficar chorando. Sem aquele showdown/duelo final que o filme merecia. Os Riffs fazendo o roda nos Rogues é bacana também, uma pitada até de humor negro até, mas preferia uma luta no estilo que Hill fez em Streets of Fire, por exemplo…