Crime Ferpeito (Crimen Ferpecto, 2004), Álex de la Iglesia

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Além das características mais óbvias que foram apontadas no decorrer do mês, nas resenhas dos outros compañeros de blog, o cinema de Álex de la Iglesia parece ter, também, grande parte do seu pé de apoio nas referências aos filmes que definiram a sua formação cinéfila. Todos os seus trabalhos se desenvolvem a partir de homenagens, reverências e brincadeiras com os gêneros, estilos e fitas que devem ter feito a cabeça deste espanhol maluco no frescor da juventude, método semelhante ao de Tarantino. Portanto, é cinema dos mais sinceros e apaixonados, realizado por um cinéfilo com muita bagagem e talento suficiente para formar um estilo próprio.

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Crime Ferpeito é um bom exemplo disso. Iglesia pega emprestado várias ideias e elementos de filmes de Hitchcock e Buñuel para ambientar seu filme no mundo dos negócios, dentro de uma loja de departamentos, onde somos apresentados a Rafael (Guillermo Toledo), um magnífico vendedor do setor feminino que utiliza todo seu poder de sedução para persuadir as clientes e transar com as funcionárias depois do expediente. Sua maior ambição é tornar-se gerente geral, mas por conta de alguns problemas, quem acaba promovido é o seu grande rival do setor masculino, Don Antonio Fraguas (Luis Varela).

Deprimido e desesperado, Rafael, acidentalmente, comete um assassinato dentro da loja e precisa esconder o corpo, não levantar suspeitas, manter a calma, etc, tudo para que seu crime, mesmo involuntário, seja perfeito. Mas acaba “ferpeito”. O único detalhe é que uma funcionária, Lourdes (Mónica Cervera), testemunhou toda a desgraça. Lourdes é aquela típica funcionária inimiga da beleza que ninguém nota e que deve existir em todos os locais de trabalho. Conselho de amigo: muito cuidado com esse tipo de gente! Quando ocorrem problemas como este, elas oferecem ajuda, mas depois transformam sua vida num verdadeiro inferno! Rafael que o diga…

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É a partir de toda esta situação que o nosso estimado diretor, Álex de la Iglesia, aproveita para prestar seus tributos cinematográficos: de Hitchcock, em Disque M para Matar (que na Espanha possui o título de El Crimen Perfecto), ao seu conterrâneo Luis Buñuel, em Ensaio de um Crime. Sem perder o estilo peculiar – com seu humor negro afiado, personagens marcantes, ácida crítica à sociedade – Iglesia apresenta um filme sóbrio nas extravagâncias visuais, tentando ao máximo construir um universo palpável, apesar das situações exacerbadas que divertem do início ao fim.

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Ronald Perrone

1 thoughts on “Crime Ferpeito (Crimen Ferpecto, 2004), Álex de la Iglesia

  1. Leopoldo Tauffenbach

    Um dado aparentemente imbecil:A loja de departamentos onde Rafael trabalha é o famoso “El Corte Inglés”, o que seria o equivalente ao “Mappin” aqui no Brasil em seus anos de glória. A loja tem como uma de suas características principais a de oferecer produtos a preços de banana até os mais exorbitantes, tornando-se uma espécie um centro gravitacional comercial para todas as classes sociais. Ao escolher esta loja em particular como cenário da trama, Iglesia reforça mais uma vez sua predileção pelo regionalismo como recurso estético (e cômico, claro), ao mesmo tempo que consegue falar a públicos de diversas nacionalidades (que país não tem um magazine tradicional como estes acima?).

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