FLIGHT TO FURY (1964), Monte Hellman

por Ronald Perrone

Apesar da bela estréia na direção com o terror classe B O Monstro da Caverna Assombrada, sob a batuta do mestre Roger Corman, o resultado do segundo trabalho oficial de Monte Hellman, Flight to Fury, parece mais um produto de alguém com muita vontade de filmar qualquer coisa que viesse pela frente do que realmente um filme com todo seu planejamento de produção. Não que isso importe para quem obteve ensinamentos do lendário diretor e produtor, rei do baixo orçamento, o já citado Roger Corman. Tanto que Hellman aproveitou a disposição, local, equipe e atores para realizar quase simultaneamente Guerrilheiros do Pacífico.

Filmado nas Filipinas, Flight to Fury é uma pequena aventura cheia de boas intenções sobre um grupo de pessoas que se conhece “ocasionalmente” por causa de uns diamantes que se encontram na posse de um deles. Todos querem botar a mão na fortuna. Mas a situação fica dramática quando o avião onde todos seguiam viagem cai em plena selva filipina. Apesar da sorte grande, ou milagre, de sairem com vida, alguns sem nenhum arranhão, de um acidente desse porte, as coisas pioram quando um bando de guerrilheiros assassinos e estupradores resolve saquear e sequestrar o grupo.

O roteiro escrito em três semanas durante a viagem dentro de um navio pelo então jovem Jack Nicholson – a partir de uma idéia de Hellman e do produtor Fred Ross – inicialmente seria uma paródia/homenagem ao filme de John Huston, Beat the Devil. Mas a mistura filme de tesouro+acidente de avião+sobreviventes na selva com bandidos tentando matá-los é algo que acabou gerando uma certa bagunça. O que se vê, na verdade, é uma narrativa desengonçada, sendo que a primeira metade, um thriller com assassinato, a coisa se arrasta com certa dificuldade para manter o interesse do público, apesar do texto de Nicholson ser muito bom, como na sequência do avião em que o próprio ator/roteirista filosofa sobre a morte.

Flight to Fury melhora consideravelmente na segunda metade, após o acidente do avião, quando finalmente toma forma e se assume como uma aventura classe B e temos alguns bons momentos de ação e um desfecho niilista surpreendente. O elenco contribui bastante, mesmo que o grande destaque fique por conta do promissor talento de Nicholson.

O duelo final em meios às rochas a beira do rio é bem interessante e construido com firmeza. Mas a direção de Hellman, de uma maneira geral, ainda não demonstra por aqui sinais da maestria minimalista e reflexiva que teria em breve, já em A Vingança de um Pistoleiro, talvez pela impulsão feroz e urgente de fazer cinema com as tripas. Mas se precisou passar por isso aqui para chegar ao patamar que chegou, então vale uma conferida.

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