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O LADRÃO DO ARCO-ÍRIS (The Rainbow Thief, 1990)

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por Leandro Caraça

O LADRÃO DO ARCO-ÍRIS é o outro filme renegado pelo artista Jodorowsky e pela maioria de seus fãs. Mal terminou Santa Sangre, o sujeito aceitou o convite de Alexander Salkind para dirigir um roteiro escrito pela esposa do produtor, admiradora da obra do cineasta. O problema é que Jodorowsky estava proibido de mudar uma linha sequer do script, e qualquer violência visual que quisesse inserir na tela seria também vetada. Haviam até homens de Salkind diariamente no set de filmagens controlando os passos do diretor, que confessou ter feito o filme apenas pra sentir o gosto de ter tanto dinheiro para gastar, além de poder trabalhar com nomes como Christopher Lee, Omar Shariff e Peter O’ Toole – que desde o início não foi com a cara de Jodorowsky. E vice-versa.

Ainda que O LADRÃO DO ARCO-ÍRIS seja só um trabalho de encomenda e sem muitos excessos – o maior deles é ter Christopher Lee confraternizando com uma trupe de mulheres semi-nuas – é uma obra simpática e agradável de assistir, muito graças ao talento de Omar Shariff. Ele é o ladrão do título, que oferece abrigo e comida ao excêntrico O’Toole na esperança que o comatoso tio deste (Lee), bata as botas e lhe deixe a sua fortuna como herança. Novamente, artistas mambembes e de circo se fazem presentes num filme de Jodorowsky. Pode não ser o que se espera de alguém que fez EL TOPO, mas afinal, o mesmo cara de ERASERHEAD também não fez UMA HISTÓRIA REAL? Assista sem preconceitos.

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SANTA SANGRE (1989)

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por Ronald Perrone

Quando o produtor Cláudio Argento propôs a Jodorowsky que ele fizesse um filme remetendo aos gialli, numa trama onde um assassino mataria um monte de mulheres, o diretor de EL TOPO viu uma grande oportunidade surgir à sua frente para retornar ao cinema depois de quase nove anos sem filmar. Mais por falta de incentivo financeiro do que qualquer outra coisa, porque Jodorowsky é, certamente, um poço sem fundo de idéias brilhantes.

O resultado acabou sendo SANTA SANGRE, que não é exatamente o que o irmão de Dario Argento imaginava, mas é uma dessas obras assombrosas, que só poderia ter saído da mente de seu criador. Imaginem um Federico Fellini na sua fase mais maluca nos anos setenta, mas em versão esteticamente e conceitualmente hardcore. É mais ou menos o que esperar da obra. Só que a tarefa de descrever os filmes de Jodorowsky nunca é das mais simples e alguns detalhes e ideias sempre se perdem pelo caminho. Eles precisam ser vistos e revistos, vislumbrados, admirados, sentidos, refletidos…

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SANTA SANGRE, por exemplo, conta a história de Fenix, filho do atirador de facas de um circo e da malabarista-fanática-religiosa (cujos braços são decepados pelo marido após flagrá-lo com uma mulher completamente tatuada). Após assistir a uma série de situações absurdas e traumatizantes, Fenix, que é interpretado por Adan Jodorowsky – filho do diretor – acaba catatônico num hospício onde passa longos anos. Depois de se “recuperar”, já adulto (agora sob a pele de Axel Jodorowsky, outro filho do diretor), ele se reúne com a sua mãe, formando uma parceria artística bizarra em apresentações que deixariam Joseph Beuys orgulhoso.

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Claro que SANTA SANGRE não é somente isso e a própria trama vai muito além do que esta simplória sinopse que atrevi-me a descrever. Embora seja um dos trabalhos mais acessíveis e coerentes narrativamente do diretor, é inegável a inventividade e originalidade que Jodorowsky narra seu filme, sem falar nos simbolismos, nas metáforas e no surrealismo, características habituais do diretor, que estão em evidência durante a história. E não falta também a galeria de figuras estranhas pontuando o filme, como por exemplo uma imensa lutadora de Luta-Livre, uma mímica surda e muda por quem Fenix é apaixonado, anões, elefantes, o mundo circense em todo seu esplendor, muito bem envolvidos à ação.

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SANTA SANGRE é essencialmente visual, e são poucos os filmes que transcendem sobre o nosso cérebro com suas imagens transformando em verdadeiras experiências sensoriais. E Jodorowsky é um artista com esta capacidade, há pelo menos mais duas obras primas (EL TOPO e A MONTANHA SAGRADA) em que ele consegue este mesmo efeito hipnótico sobre o espectador. Por isso é um diretor tão único, tão verdadeiro, tão sem espaço no cinema que é feito atualmente…

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TUSK (1980)

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por Leandro Caraça

TUSK foi o primeiro dos dois corpos estranhos na curta filmografia de Alejandro Jodorowsky. Depois de perder vários anos trabalhando na adaptação de Duna, a obra-prima de Frank Herbert, o artista multímidia apareceu com essa produção francesa a respeito de uma jovem, filha de um colonizador inglês, e um elefante que nascem exatamente no mesmo momento. Com o passar do tempo, a moça descobre a existência de uma espécie de ligação mental entre eles. A ‘fable panique‘ é o que promete o filme. Mas TUSK nada tem a ver com o Movimento Pânico, e sim com uma antiga aventura saída direta dos estúdios da Disney, pelo menos da época em que o vírus do politicamente correto não havia ainda se espalhado pelo mundo.

Seria algo errado dizer que trata-se de uma obra sem valor, mas a verdade é que não é bem dirigida, e na maior parte do tempo não funciona. Alguns símbolos comuns ao cineasta estão presentes : multidões desfilando, místicos, artista de rua, citações ao cinema mudo e pelo visto, Jodorowsky também adora elefantes. Existem alguns ótimos achados, como a trilha sonora prog-psicodélica e a maioria das cenas com os paquidermes. Por outro lado, temos o humor sem graça e o elenco humano na sua maioria desinteressante – os vilões idiotas ou o mocinho sem carisma feito por Christopher Mitchum. Salvam-se Anton Drifing e Cyrielle Clair.

Raramente mencionado por Jodorowsky em entrevistas, o próprio saiu em defesa de TUSK, dizendo que se fosse possível remontá-lo ele ficaria melhor. Mas isso não é algo que deva acontecer ainda nessa era.

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DUNA

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por Leandro Caraça

De alguma maneira difícil de explicar, e isto só poderia ter acontecido mesmo nos anos setenta, o bruxo Alejandro Jodorowsky foi escalado pela 20th Century Fox para adaptar Duna a grandiosa novela de ficção científica de Frank Herbert.

Se antes, David Lean havia mostrado interesse no material, com o diretor de EL TOPO foram quatro anos de preparação e milhões de dólares gastos para uma visão que seria pouco fiel ao livro, de acordo com o próprio cineasta. Para o filme estavam confirmados Orson Welles, David Carradine e o surrealista Salvador Dali como um imperador louco que usaria uma privada de trono. Os cenários seriam de H.G. Giger, os efeitos a cargo de Dan O’Bannon (após Jodo e Douglas Trumbull terem quebrado o pau) e a música teria composições inéditas de Pink Floyd, Tangerine Dream e do Magma.

Com o fim dessa sandice cinematográfica, Bannon e Giger foram se juntar a Ridley Scott (que por pouco não aceitou substituir Jodorowsky) em ALIE – O 8º PASSAGEIRO. Depois, DUNA chegaria as telas numa controversa versão produzida por Dino de Laurentiis e conduzida por David Lynch. Vale lembrar ainda que diversos cenários e figurinos do abortado projeto foram reutilizados por George Lucas em Star Wars, assim como muitos técnicos que mais tarde viriam a fazer parte da Industrial Light & Magic.

originalmente escrito em Viver e Morrer no Cinema.

A MONTANHA SAGRADA (The Holy Mountain, 1973)

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por Leopoldo Tauffenbach

Não é fácil digerir o cinema de Alejandro Jodorowsky. Menos ainda talvez seja escrever qualquer coisa a respeito de seus filmes. E a situação pode ficar ainda mais complicada quando tratamos de A MONTANHA SAGRADA.

Pode-se dizer que o filme representa o auge da confluência criativa entre Jodorowsky, o cineasta, e Jodorowsky, o mago. Nunca antes um filme fora tão bem sucedido ao capturar a poderosa essência imagética dos símbolos místico e religiosos. E vale notar aqui que religioso não tem nada a ver com crenças institucionalizadas, mas com o aspecto humano que lida com tudo o que é misterioso, invisível e sobrenatural.

A fantástica sequência de abertura de A Montanha Sagrada, anunciando seu complexo devir.

A fantástica sequência de abertura de A Montanha Sagrada, anunciando seu complexo devir.

Não por acaso Jodorowsky inicia o filme deixando claro que a religião, quando instituição, é um produto humano, criado à revelia de valores verdadeiramente míticos e universais. Vemos animais esfolados e crucificados levados e adorados por uma procissão. Enquanto isso, um circo de animais realiza uma apresentação que conta a história da derrota dos astecas “pagãos”, representados por lagartos, pelos espanhóis católicos, personificados por sapos obesos. Independentemente do que dizem os livros de história, ambos os lados perdem nesta insanidade circense, brutalizados por uma grande explosão que transforma sapos e lagartos em uma massa de carne moída e chamuscada indistinguível.

O protagonista desta história surge como um homem qualquer. Ou alguém tão comum que preserva uma ignorância quase infantil, ainda imaculada. Vivendo em meio ao caos de uma grande metrópole, ele chega a uma torre onde habita um mago. Lá ele passa por uma série de situações e rituais transformadores, que o prepararão para sua verdadeira missão: alcançar a lendária Montanha Sagrada.

O personagem principal em um rito de trasformação interior.

O personagem principal em um rito de trasformação interior.

Desde o início do filme, fica evidente todo o conhecimento de Jodorowsky sobre o oculto, eternizado em película em imagens memoráveis. Símbolos e rituais alquímicos, maçônicos, astrológicos, egípcios e até mesmo o repertório imagético e simbólico do tarô se integram para dar base à narrativa. Mas o que inicialmente poderia parecer um balaio de gatos oriundo de alguma mente hippie adepta da Era de Aquário revela, na verdade, toda a precisão de Jodorowsky em encontrar denominadores comuns aos mais diversos aspectos das manifestações humanas e divinas, incluindo até certos fundamentos da psicanálise e da psicologia Jungiana.

Os companheiros de viagem reunidos antes de partir rumo à montanha Sagrada. Cada um possui uma representação astrológica que os aproxima aos arquétipos jungianos.

Os companheiros de viagem reunidos antes de partir rumo à montanha Sagrada. Cada um possui uma representação astrológica que os aproxima aos arquétipos jungianos.

Para os não familiarizados com o cinema de Jodorowsky e os imaginários místicos apresentados no filme, A MONTANHA SAGRADA pode ser um filme completamente ininteligível. Mas a verdade é que tal conhecimento prévio é completamente desnecessário se o espectador simplesmente deixar-se levar pela viagem proposta pelo diretor. Este é um filme capaz de estabelecer uma linha de comunicação direta com o inconsciente. Qualquer tentativa de racionalizar seu conteúdo em busca de “entendimento” pode resultar frustrante, principalmente se considerarmos o final, de uma simplicidade revoltante para nós, criaturas excessivamente racionalizadas e acostumadas a receber respostas para todas as nossas questões.

A MONTANHA SAGRADA não quer responder nada. Pode ser a saga do herói de Joseph Campbell, o processo de individuação de Jung ou a história do cachorrinho Samba. Não importa qual dessas alternativas se adequariam mais à proposta do filme. A real intenção de Jodorowsky é propor que nós voltemos a nos encantar mais com as perguntas do que com as respostas. E por isso mesmo, A MONTANHA SAGRADA não se basta em ser só um filme. É uma verdadeira experiência de vida.

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EL TOPO (1970)

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por Otávio Pereira e Heráclito Maia

El Topo é um tipo de toupeira que habita o subsolo e tende a cavar em busca do sol, mas ao chegar à superfície e encará-lo acaba ficando cego. Esta explicação é obtida nos primeiros minutos de EL TOPO, segundo longa do chileno Alejandro Jodorowsky, e veremos ao decorrer da película essa situação acontecer algumas vezes…

Uma tentativa de sinopse seria: El Topo é um pistoleiro errante que abandona seu filho de sete anos para empreender uma jornada pelo deserto, onde vivem quatro grandes mestres da pistola. Após localizá-los e enfrentá-los em insólitos duelos, ele é baleado gravemente por uma misteriosa mulher. Socorrido por uma legião de defeituosos físicos que vivem à margem da sociedade, El Topo é levado para dentro de uma caverna onde é tratado como um Deus, até despertar de seu torpor.

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Junto com uma anã, decide mendigar numa cidade, fazendo shows de mímica para levantar dinheiro e cavar um túnel que permita os habitantes paralíticos da caverna saírem de lá com mais facilidade. Porém, novos obstáculos cruzarão o caminho do ex-pistoleiro, desde moradores indignados com a liberdade dos excluídos, até seu filho, já adulto, que anseia encontrá-lo para matá-lo…

Assinando como roteirista, diretor, compositor e ator principal de EL TOPO, Alejandro Jodorowsky surpreende em todos os aspectos, presenteando-nos com imagens fortes, visualmente poderosas e repletas de simbolismo. Ao mesmo tempo em que é um filme difícil de analisar, é possível pensar em muitas coisas, pois ele fica aberto a interpretações. Trabalhando com alegorias surrealistas, o espectador é atraído por uma sucessão de imagens desconcertantes que relatam desde o amor, traição, compaixão, trapaça, violação, sacrifício, liberdade, fé, procriação, morte, ressurreição e fanatismo. A violência é retratada de forma crua e direta, há muitas críticas às religiões e à sociedade, tudo de modo estilizado, poético e místico.

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Uma curiosidade interessante é que o cinema de Jodorowsky é feito da forma mais real e artesanal possível, utilizando animais mortos, pessoas realmente deformadas, seu próprio filho, um inventivo uso de melancia nas cenas gore, etc…

EL TOPO é uma obra-prima que deve ser assistida, mas não uma única vez e sim várias, pois com certeza cresce a cada revisão. É um filme poderoso, uma experiência intensa, cheia de simbolismo, selvagem, bizarro, e que lhe deixa pensando por dias. Jodorowsky abre mão de toda e qualquer convenção para se expressar artística e intelectualmente com 100% de liberdade. O resultado é um dos filmes mais interessantes, controversos e originais de todos os tempos, e que dificilmente deixará um espectador indiferente.

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FANDO Y LIS (1968)

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por Ronald Perrone

Alejandro Jodorowsky levou mais de dez anos para se aventurar no cinema novamente depois de ter realizado apenas o curta LA CRAVATE em 1957. Durante esse hiato, se juntou aos surrealistas Fernando Arrabal e Roland Topor, fundando, em 1962, o Movimento Panique. Homenageando o deus Pan, suas atividades eram apresentações teatrais performáticas e vanguardistas ao vivo pelas ruas parisienses. Foi justamente a partir de uma peça de Arrabal que Jodorowsky resolveu fazer seu primeiro longa metragem: FANDO Y LIS.

Basicamente, a trama narra a jornada de Fando e sua amada, a paralítica Lis, em busca da mítica Tar, uma espécie de paraíso, a última cidade que sobrou na terra após uma guerra nuclear apocalíptica. Mas o argumento serve apenas como pretexto para que o diretor experimente e expresse seus delírios surrealistas, de forma contundente e visceral, diferente da leveza de La Cravate. FANDO Y LIS pode ser resumido como uma fábula estruturada a partir de sucessões de “gags” surrealistas, com um atmosfera de sonho, bem ao estilo de Buñuel e Dalí no final dos anos 20 e inicio dos 30, com O CÃO ANDALUZ e A IDADE DO OURO.

Para quem curte este tipo de experimentação, Fando y Lis pode ser um ótimo deslumbre; pra quem não vai muito com a cara do estilo, pode se tornar um programa enfadonho (a reação do público revoltado, um tanto exagerada, fez com que o carro de Jodorowsky fosse apedrejado quando saiu da primeira apresentação do filme). O fato é que é impossível ficar indiferente diante de alguns momentos pictóricos impressionantes, algo que Jodorowsky viria a amadurecer muito ainda e teria grande força já em seu filme seguinte, EL TOPO. Assim como LA CRAVATE, FANDO Y LIS vale muito como curiosidade e preparação para suas verdadeiras obras primas: o já citado EL TOPO, THE HOLY MOUNTAIN e SANTA SANGRE.

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La Cravate (1957, curta), Alejandro Jodorowsky

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O chileno Alejandro Jodorowsky é um sujeito multifuncional: artista plástico, escritor (de teatro, livros, quadrinhos), ator, mímico, especialista em tarô, psicoterapeuta e, nos momentos de folga, diretor e roteirista de cinema. Seu trabalho inicial com a sétima arte rendeu este curta metragem de 20 minutos de duração.

Durante 50 anos, La Cravate ficou desaparecido e só foi encontra do em 2007, num velho sótão na Alemanha! Baseado numa estória de Thomas Mann, o filme narra o conflito de um jovem, interpretado pelo próprio diretor, que deseja conquistar uma moça e compra no mercado de cabeças uma flor roxa para presenteá-la. Ignorado pela amada, percebe que o problema está no detalhe que fica acima de seu pescoço, então decide voltar ao mercado para trocar sua cabeça por uma que agrade a donzela.

Filmado em cenários teatrais na França e sem diálogos, La Cravate é inspirado na arte da pantomima e no movimento surrealista, mas mesmo que este último elemento acompanhe toda a carreira do diretor, o curta destoa completamente de seus filmes seguintes, muito mais carregados de simbolismos e bastante viscerais. Vale como uma agradável curiosidade.

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Ronald Perrone

O DIA DA FÚRIA ESPECIAL ALEJANDRO JODOROWSKY

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LA DANZA DE LA REALIDAD (2013)
O LADRÃO DO ARCO-ÍRIS (The Rainbow Thief, 1990), por Leandro Caraça
SANTA SANGRE (1989), por Ronald Perrone
TUSK (1980), por Leandro Caraça
A MONTANHA SAGRADA (The Holy Mountain, 1973), por Leopoldo Tauffenbach
EL TOPO (1970), por Otavio Pereira & Heráclito Maia
FANDO E LIS (1968), por Ronald Perrone
LA CRAVATE (curta, 1957), por Ronald Perrone

DUNA*

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